Somos quatros raparigas e
um rapaz, da parte do pai. O meu pai, decidiu nunca fazer parte da
minha vida. E ser completamente ausente na vida delas. Talvez, para
se tornar pai a tempo inteiro do rapaz.
Não tendo tempo,para ser
avô, se quer...
Nunca o vi,pessoalmente.
Mas ele viu-me umas duas ou três vezes. Depois fez-se vida. Deixando
para trás uma miúda de dezoito anos, com uma bebé nas mãos.
Afinal, havia coisas mais interessantes na vida do que assumir as
responsabilidades. Nunca deu pensão. Nem se preocupou, se
eventualmente aquele aquela filha tinha comer na mesa todos os dias.
Não guardo, rancor, nem
magoas. Mas guardo alguns porquês.
Não é fácil uma
criança crescer com ausência do pai. “Não ter pai” no dia do
pai. Não receber os parabéns do pai, no seu dia de anos. Nunca
poder dar-lhe os parabéns. Ou nunca ter passado um natal em casa do
pai. Ou ter uma prenda de natal do pai. De não lhe puder ligar a
dizer, que o dia de hoje foi uma verdadeira treta que tudo correr
mal, ou simplesmente que tinha tido boa nota num teste.
Mas apesar do abandono,
ele ensinou-me muito mais que alguma vez poderá imaginar. Coisas
boas e coisas más também. Ensinou-me a não ser cobarde e agarrar
o touro pelos cornos, ensinou-me cada um nasce para o que nasce. E
quem nem todos os homens nascem para ser pais, apenas homens.
Ensinou-me a sonhar, por que todos os dias durante anos. Sonhava como
ele, de como seria. Ensinaste-me a nunca mendigar o amor ou atenção
de ninguém. Ensinas-te a nunca viver as coisas por metade. E que
quem quiser estar na minha vida, tem de estar por inteiro.
Mas também ensinou me a
ser muitíssimo reservada, insegura, tímida e bruta. Ensinou-me a
construir-me e reconstruir-me todos os dias e a não ter medo de
começar sempre do zero. Porque no “fim”, haverá sempre algo
melhor a minha espera. E ensinou-me, que quando quiser construir uma
família, tenho escolher muito bem os pais para os meus filhos.
Afinal a figura paterna também faz muito falta. E ensinou-me muito
mais...
Mas, e existe sempre um
mas...Se há coisa que eu nunca vou lhe vou perdoar, é o facto de
nunca ter feito nada, para que os filhos se conhecem. E pudéssemos
crescer juntos. Saberes que tens irmãos da tua idade nunca teres
convivido com eles. E como te amputarem uma parte do teu corpo à
nascença. Como uma árvore que mal nasce, lhe cortam um pedaço do
pé. Ela continua a crescer, mas com cicatrizes. As folhas não
serão,nunca,tão verdes como serias com aquele pedaço de pé que
lhes falta. Os ramos começam a ficar débeis. E as folhas começam a
cair amareladas e secas antes do outono. Porque afinal, faltou-lhes
conhecer a outra parte da raiz. Que fica sempre a ecoar, dentro
delas, e sou parecida com quem. Tenho o mau feitio de quem. Como
serão elas.
Mas eu sabia que um este
pedaços de mim iriam aparecer. Ele apareceu, de mansinho como não
quer a coisa. Através do facebook. Falamos 5 minutos apenas isso
nunca tive com ele. Elas pareceram por facebook também, vamos
mantendo contacto e vamos falando. Mas hoje, apesar do convite de uma
delas, para irmos beber café. Faltou-me a coragem. E foi cobarde,
exatamente como ele. Só a desculpa foi diferente. A minha foi o
excesso de trabalho a dele era que olhos que não veem, coração que
não sente.
Mas o meu sente. Sente,
a falta de todos aqueles que são “meus” e me foram tirados
amputados à nascença. Ironia da vida, a filha que nunca viu nem
conhecem e mais parecida com ele fisicamente. E talvez em algumas
coisas, a nível da personalidade.
Pode
ser que um dia nos vejamos por...pai. E sim sou muito feliz, com arestas, ainda por limar, mas feliz!